
A consultoria americana Eurasia Group faz todo ano uma previsão com os “top risks”, os riscos políticos com reflexos econômicos com maior probabilidade de ocorrer ao longo do ano. O último relatório foi publicado em 6 de janeiro de 2025 e apontou algumas implicações para o Brasil.
Segundo o relatório, o Brasil entra em 2025 sob significativa pressão financeira motivada por crescentes preocupações sobre suas contas fiscais. A incapacidade do governo de amenizar as preocupações dos investidores sobre o aumento dos níveis de dívida contribuiu para um declínio de 27% na moeda nacional em 2024, o que influenciou a decisão do Banco Central do Brasil de aumentar as taxas de juros. Se o cenário econômico global se deteriorar sob essas condições, o risco de o Brasil entrar em uma nova recessão que vire a política de cabeça para baixo antes de uma eleição acirrada em 2026 aumentaria.
Se as políticas de Trump sobre imigração, comércio e gestão fiscal contribuírem para uma inflação mais alta e um dólar mais forte, os problemas econômicos do Brasil se aprofundarão. O real brasileiro pode se desvalorizar ainda mais, alimentando pressões inflacionárias — o que reduziria a capacidade do banco central de cortar as taxas de juros em 2025 após um ciclo de aperto.
Junto a isso, um menor crescimento global causado por guerras comerciais pesaria sobre os preços das commodities que respondem pela maior parte das exportações do Brasil; preços do petróleo com o barril abaixo de US$ 60 reduziriam a receita da produção de petróleo.
A forma como o governo brasileiro abordará esse cenário econômico será crucial. O Independent Fiscal Institute estima que superávits primários de 2,4% do PIB são necessários para a estabilização da dívida, mas um ajuste dessa magnitude exigiria cortes de gastos inconcebíveis do governo.
Embora uma ruptura entre EUA e China aponte para ameaças econômicas representadas pelas tensões geopolíticas, é possível visualizar oportunidades. A potencial inundação do mercado brasileiro com produtos chineses prejudicará os produtores nacionais em setores-chave como petroquímicos, manufatura e vestuário. A indústria chinesa responde por cerca de um terço da produção industrial mundial e avançou rapidamente em setores de maior valor agregado, como demonstrado por seu domínio em vendas de veículos elétricos e insumos de energia solar. O Brasil não tem capacidade de erguer barreiras comerciais comparáveis às dos EUA, Europa e outras regiões, o que o torna mais exposto a esse fluxo massivo.
Mas o Brasil também se beneficiará de insumos chineses mais baratos, o que se mostrará deflacionário, e também poderá se beneficiar de uma guerra comercial entre EUA e China. No primeiro mandato de Trump, os exportadores agrícolas do Brasil ganharam participação de mercado quando a China taxou produtos agrícolas dos EUA em retaliação às tarifas dos EUA. Embora seja improvável que o Brasil ganhe tanto com uma nova guerra comercial, dado que a China já está importando cerca de 60% de toda a soja de que precisa do Brasil, ele ainda pode obter algum benefício marginal.
No entanto, essa incerteza geopolítica também abre oportunidades para o Brasil. À medida que os países intensificam sua busca por segurança alimentar e energética, o Brasil pode potencialmente se integrar a novas cadeias de produção ou se expandir para mercados consumidores emergentes. Por fim, o impasse mexicano apresenta uma oportunidade econômica intrigante que pode beneficiar o Brasil em meio a crises geopolíticas. A estabilidade institucional em declínio no México e a incerteza sobre o futuro do “Acordo EUA-México-Canadá” podem mudar investimentos de longo prazo para o Brasil, especialmente aqueles de multinacionais que buscam economias de escala para melhor atender o mercado consumidor latino-americano. A estabilidade institucional do Brasil e as reformas em andamento posicionam o país como uma alternativa atraente neste cenário, dadas as incertezas emergentes no México.
A geopolítica é tema constante da Feira Logistique, que busca apresentar os impactos da interação da política com a logística na formação de corredores comerciais, acordos e decisões que moldam a infraestrutura, analisando riscos e oportunidades. A próxima edição acontece entre 12 e 14 de agosto, no Expocentro, em Balneário Camboriú, Santa Catarina
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